2270 – Houve 52 casos de censura nos veículos da Empresa Brasil de Com

Houve 52 casos de censura nos veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC): Rádio Nacional, Rádio MEC, TV Brasil, Agência Brasil, Radioagência Nacional e suas respectivas redes sociais. O levantamento é elaborado pela Comissão de Empregados da EBC e os Sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas do Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo, a partir de denúncias dos empregados da empresa pública de comunicação. Mesmo com o elevado número registrados, os casos denunciados muito provavelmente ficaram aquém da realidade cotidiana das redações. A censura e o governismo na EBC começaram em 2016, no governo de Michel Temer, intensificaram e foram práticas constantes do governo Bolsonaro. Segundo os trabalhadores da EBC, em 2022 continuaram sendo alvo preferenciais da censura temas como direitos humanos, questões indígenas, conflitos no campo, ditadura e outros assuntos que exigiam um posicionamento do governo. Eles denunciaram a prática recorrente de impedir a divulgação de reportagens já prontas, quando o órgão oficial envolvido não enviava respostas à reportagem. E os casos denunciados muito provavelmente ficaram aquém da realidade cotidiana das redações. A TV Brasil e a Agência Brasil não noticiaram, em junho, o fato de que o assassino do petista Marcelo Aluizio de Arruda, o policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, é um bolsonarista. Os veículos públicos da EBC trataram o caso como um “desentendimento”, seguido de uma “troca de tiros”. Na TV Brasil, a cobertura do duplo assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, ocorrido em junho, sofreu censura. A informação de que a Defensoria Pública da União (DPU) havia entrado com uma ação questionando a não utilização de helicópteros pelas autoridades já no primeiro dia de buscas pelos dois, quando ainda eram considerados desaparecidos, não pôde ser divulgada. As chefias também impuseram silêncio sobre o levantamento “Quilombolas contra Racistas”, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e da Terra de Direitos, que apontou discursos racistas por autoridades públicas das três esferas da administração pública. Entre os cargos com o maior número de ocorrências estão os representantes de cargos de direção e assessoramento do governo federal (ministros, secretários e presidentes de autarquias). Outro assunto cortado foi o Balanço do Orçamento 2019-2021, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). O documento, divulgado em abril, apontou o desmonte de políticas sociais. Ainda na TV Brasil, o programa “Sem Censura” passou a ter como convidados somente pessoas que apoiavam o então presidente Jair Bolsonaro. No radiojornalismo, destacaram-se casos de censura que ficaram evidentes, porque outros veículos de comunicação deram ampla cobertura para os assuntos em pauta. Foi assim com a convocação de Bolsonaro, em janeiro, para prestar depoimento à Polícia Federal, em inquérito que apurou o vazamento de informações sigilosas por parte de Bolsonaro. A convocação e o não comparecimento de Bolsonaro, que enviou uma declaração por escrito, não foram noticiados. Em abril, foi vetada a cobertura da apresentação do relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de violência no campo; o relatório da abBiomas que alertava para o aumento de mais de 40 vezes nas notificações de desmatamento em terras indígenas, em virtude da mineração; e os ataques da Polícia Militar a indígenas guarani kaiowá, em Amambai (MS). Outro fato que somente não se tornou notícia nas rádios da EBC foi o escândalo de desvio de verbas do Ministério da Educação (MEC), envolvendo o então ministro Milton Ribeiro. Nenhum repórter foi escalado para fazer a cobertura do assunto, amplamente noticiado por outros veículos de comunicação. Igualmente, ficou fora do noticiário, a repercussão do escândalo de assédio sexual praticado pelo ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães. A bancada feminina do Senado Federal editou uma nota pública pedindo sua demissão e, apesar de uma repórter ter se colocado à disposição para repercuti-la em matéria, as chefias não autorizaram. Nas rádios da EBC as mortes por Covid-19 foram apagadas ou minimizadas. Houve um caso de um músico que foi vítima fatal da doença e a causa do falecimento foi censurada. Em outra situação, não se deu visibilidade à notícia de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) criticava o abandono do uso de máscaras como forma de se conter a Covid-19. Na equipe das mídias sociais, além dos assuntos censurados pelas chefias da TV Brasil e das rádios, foi vetada uma postagem que replicava notícia sobre o aniversário do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, crime que chocou o país e que ainda não foi solucionado.