O então presidente Jair Bolsonaro, em seis episódios diferentes durante o mês de junho, foi hostil e desrespeitoso com o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, assassinados na Amazônia. Dois dos casos ocorreram nos Estados Unidos. No dia 7 de junho, quando Dom e Bruno ainda eram considerados desaparecidos, em entrevista ao SBT Bolsonaro disse que eles participaram de uma “aventura não recomendável”: “O que nós sabemos até o momento? Que no meio do caminho teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas pela Polícia Federal, estão sendo investigadas. E, realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. Tudo pode acontecer.” No dia 9 de junho, em entrevista nos EUA, Bolsonaro volta a mencionar que o jornalista Dom Philips e o indigenista Bruno Pereira, que seguiam desaparecidos, participaram de uma “aventura”: “Naquela região, geralmente você anda escoltado, foram para uma aventura, a gente lamenta pelo pior”. Novamente em entrevista nos EUA, dia 11 de junho, Bolsonaro voltou a atribuir a Dom Philips a responsabilidade por seu próprio desaparecimento: “Eles, quando partiram, a informação que temos é que não foi acertado com a Funai. Acontece. As pessoas abusam e as coisas acontecem. Eu peço a Deus que sejam encontrados vivos.” Em 13 de junho, durante conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro volta a responsabilizar Dom e Bruno pelo próprio desaparecimento: “Acho que até os dois sabiam do risco que corriam naquela região. Os dois sabiam. (…) Não tem por que mandar mais gente para lá. Chegou a bater 250 pessoas, duas aeronaves e muita embarcação. Lá tem de tudo que se possa imaginar naquela região. Eu lamento eles terem saído da forma como saíram, duas pessoas apenas, em terras desprotegidas. Tem notícia de pirata na região. Tudo tem ali.” No dia 15 de junho, mais uma vez, Bolsonaro responsabiliza Dom Philips, com especulações mórbidas sobre seu destino, durante entrevista à jornalista Leda Nagle: “Esse inglês ele era malvisto na região, porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental… Então, naquela região lá, que é uma região bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais que redobrada atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão. (…) A gente não sabe se alguém viu e foi atrás dele. Lá tem pirata no rio, tem tudo que você possa imaginar. E é muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado pela Funai, que pelo que parece não estavam. (…) Você pode ver: pelo que tudo indica, se mataram os dois, se mataram, espero que não, eles estão dentro d’água, e dentro d’água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha lá no Javari. A gente lamenta tudo isso, pede a Deus que nada tenha acontecido.” Em 23 de junho, quando o assassinato do jornalista e do indigenista já estava confirmado, Bolsonaro ataca a memória dos dois. Em conversa com apoiadores em Brasília, ele os responsabiliza pela própria morte, fazendo uso de expressão mórbida: “Tem que fazer comparação. Igual o Lula tava esbravejando sobre os dois que desapareceram na Amazônia, acharam os corpos depois. Lamentamos o ocorrido. Mas entraram numa área, pô, sem segurança. É eu subir o morro… uma comunidade no Rio de Janeiro com esse olho azul e essa cara à noite. Vou para o micro-ondas ou não vou? Ué. A gente lamenta. Entraram.