1421 – Os jornalistas funcionários da Empresa Brasil de Comunicação

Os jornalistas funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foram vítimas de pelo menos 76 casos de censura e governismo no ano de 2020. Alguns casos chegaram ao conhecimento público e ganharam destaque em outros veículos de mídia. Mas a maioria, apesar de denunciada pelos funcionários e Sindicatos de Jornalistas e Radialistas e pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) tornaram-se frequentes. O uso do termo “ditadura” para se referir ao período entre 1964 e 1985, por exemplo, foi vetado dos textos, prática que começou em 2019 e continuou em 2020.
Entre os destaque, estão uma reportagem do programa “Fique ligado”, da TV Brasil, sobre a exposição “O Pasquim 50 anos”, em cartaz no Sesc de São Paulo. Um trecho que mencionava a prisão de jornalistas do semanário durante a ditadura militar foi suprimido. O programa foi ao ar no dia 6 de janeiro e a parte cortada contava o episódio que ficou conhecido como a “Gripe do Pasquim”, quando nove jornalistas do folhetim foram presos durante dois meses. Toda a história relativa ao caso e uma fala de um dos curadores da exposição sobre o autoritarismo da ditadura estavam na reportagem enviada pela sucursal de São Paulo, mas foram excluídas na edição em Brasília.
Em junho, um repórter do radiojornalismo foi retirado da cobertura do Ministério da Saúde, após enviar uma pergunta à coletiva de imprensa sobre os critérios adotados para a ocupação de cargos, na pasta, por militares e empresários, sem formação médica. A pergunta sequer foi lida ou respondida durante a coletiva.
A partir de julho, a equipe das redes sociais passou a receber orientação para não postar conteúdos com “temas sensíveis ou polêmicos”. O problema se agravou após a conclusão do formulário de censura, com o envio diário de temas sobre os quais deveriam ser feitos posts. Fora dessa lista, as chefias teriam que ser consultadas e raramente aprovavam novos temas. O caso do assassinato de Beto Freitas por seguranças de uma loja do Carrefour de Porto Alegre, na véspera do 20 de novembro, por exemplo, teve matéria da Agência Brasil a respeito, mas não ganhou visibilidade com postagem nas redes sociais.
Em todos os veículos da EBC houve cortes nas reportagens, especialmente em falas críticas ao governo, problema que persistiu após o encerramento do período do formulário. Fontes, como os trabalhadores dos Correios em greve, sindicalistas do Sindicato dos Petroleiros, representantes de entidades de direitos humanos, como Anistia Internacional,e Human Rights Watch e Conselho Indigenista Missionário foram censurados, assim como as sátiras no carnaval a membros do governo federal, governadores de estado e procuradores.
Declarações questionáveis do próprio presidente Jair Bolsonaro, como críticas à imprensa, e o “e daí”, em relação aos primeiros 5 mil mortos por Covid-19, foram cortadas.
Também não foram divulgadas polêmicas em torno de membros do governo, como o fato do então secretário de Cultura, Roberto Alvim, ter usado música do compositor preferido de Hitler e ter feito um discurso copiado de Goebbels. Em novembro, foi cortada fala do vice-presidente, Hamilton Mourão, que disse não existir racismo no Brasil.
Alguns assuntos notadamente de interesse público não puderem ser abordados pelos veículos da EBC. A TV Brasil não fez reportagens sobre as filas na Caixa Econômica Federal para sacar o auxílio emergencial durante a pandemia. Na Agência de Notícias, não passaram sugestões sobre insegurança alimentar entre pessoas de baixa renda durante a pandemia, relatório sobre saúde mental, avanço da pandemia entre os povos indígenas, motivos da alta no preço do arroz e iniciativas como o do MST, que continuou vendendo arroz para o mercado interno sem aumento.
Na TV Brasil, houve veto à entrevista para o Sem Censura com Paulo Lima, conhecido como Galo, liderança da greve dos entregadores de aplicativos. Um episódio dos Caminhos da Reportagem com o nome “Um Vírus entre a Floresta e a Cidade” não foi ao ar depois de pronto.
Também foram vetadas pautas sobre a própria liberdade de imprensa. O Relatório da Violência contra jornalista e Liberdade de Imprensa no Brasil, lançado anualmente pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) deixou de ser notícia, desde que começou a citar a EBC nos casos de censura.